terça-feira, 26 de agosto de 2008

O salto para a glória



O dia era sexta-feira, 22 de agosto. O local: O Ninho de Pássaro, o mais moderno templo do atletismo dos jogos olímpicos. Vinte e dois passos separaram Maurren Higa Maggi do passado para o presente que irá moldar o futuro do salto em distância brasileiro.

Maggi iguala-se no Olimpo do salto brasileiro com grandes atletas como Adhemar Ferreira da Silva (bicampeão olímpico em Helsinque -1952 e Melbourne-1956) e João Carlos de Oliveira (João do Pulo), bronze em Montreal-76, ambos triplistas.

Foram anos de tentativas, erros e acertos. Anos de angústia por querer competir e não poder. Anos de superação para atingir o ápice da carreira que em 1 centímetro separou o ouro da prata.

O Brasil ganhou apenas três medalhas de ouro nos jogos de Pequim. Duas pelas mãos de mulheres e o outro por um homem. Todas essas medalhas foram históricas para o país mas não como no salto em distância.

Foram 100 milímetros de pura glória, raça, superação e determinação. Não foi um período de preparação fácil com 29 centímetros sendo galgados pouco a pouco para no dia Olímpico estar no ápice da forma. Acompanhe:
Distância, local e data:
7.04 - Beijing (National Stadium) – Olimpíadas em 22/08/2008
6.99 - São Paulo - 29/06/2008
6.95 - Madrid - 05/07/2008
6.92 - Eugene, OR (EUA) - 08/06/2008
6.91 - Rio de Janeiro - 18/05/2008
6.87 - São Paulo - 22/05/2008
6.83 - Belém - 25/05/2008
6.79 - Beijing (National Stadium) - 19/08/2008
6.75 - Réthimno - 14/07/2008
6.75 - Fortaleza - 14/05/2008
6.75 - Doha - 09/05/2008
Fonte: IAAF

O responsável técnico pela perseverança de Maggi é Nélio Moura (foto) que há 14 anos treina a brasileira. Nélio que também foi medalha de ouro na China no salto masculino com o panamenho Irving Saladino.

Veja o relato salto de Maggi feito pelo Globo.com:
E lá foi ela. Respirou. Deu um adeus breve para as câmeras. Bateu nas coxas, gritou, deu um soco no ar. Fez o sinal da cruz. Falou para si mesma: - Vamos lá, vai.

E correu. Foram 22 largos passos até o salto. De pernas estendidas, Maurren levantou vôo no Ninho do Pássaro. E pousou longe: 7,04m.

Depois do pouso, esperou. Faltavam cinco saltos para cada adversária. Doze mulheres em busca da distância. Lebedeva tentou. Queimou. E queimou. Quatro saltadoras foram eliminadas - a brasileira Keila Costa entre elas.

Apenas oito teriam direito a mais três saltos. A nigeriana Blessing Okagbare chegou a 6,91m, a melhor marca de sua carreira, e ficou com o bronze. Maurren queimou todos os saltos até que, no quinto, foi econômica: 6,76m.

A prata estava garantida - mas ainda havia Lebedeva. A russa tinha uma última chance. Lebedeva, campeã olímpica em Atenas, correu. E saltou. E voou. Aterrissou perto da marca dos sete metros, criando suspense. E veio o resultado: 7,03m - um imenso centímetro a menos que Maurren.

Um imenso centímetro de ouro. Maurren abriu os braços e o sorriso. Correu para abraçar seu técnico Nélio Moura, cercado de atletas brasileiros. O primeiro ouro de uma mulher em esporte individual. A primeira medalha de ouro brasileira no atletismo desde 1984 (Joaquim Cruz nos 800m). Cinco anos após viver o drama da suspensão por doping e chegar a abandonar a carreira... Maureen Maggi chegou ao Olimpo.
Arnaldo de Sousa, jornalista e corredor
Fontes: Globo.com e IAAF
Foto: Cbat

Um comentário:

edubarella disse...

Belo texto, Arnaldo! O fato de ela ter feito um salto fantástico na primeira tentativa foi decisivo. Jogou toda a pressão psicológica para as adversárias e mostrou como a competição do salto triplo é emocionante -- foi a primeira vez que assisti uma prova completa desta modalidade. Outra competição surpreendente foi da marcha atlética. Mostrou que exige superação física e preparo psicológico.
abs,
Edu