terça-feira, 3 de junho de 2008

Uma boa ação



Ontem fizemos uma boa ação que, cá entre nós, não precisava ter acontecido.
Já são doze as edições da Maratona de São Paulo nas quais a Anna (minha mulher) com o apoio de suas irmãs, da Verinha e de mais alguns amigos, monta no km 36 da Maratona de São Paulo, um posto voluntário de distribuição de frutas para todos os corredores.

O posto começa a ser organizado às 6 horas da manhã e permanece em funcionamento até a passagem do último corredor em torno das 15 horas.

Neste ano, como os últimos corredores que passavam mostravam-se muito cansados, resolvemos, a Anna e eu, avançarmos com um segundo posto no km 38, para dar um suporte adicional aos últimos que ainda passavam. Vale lembrar que já estávamos com cinco horas de corrida.

Resolvemos que ficaríamos nesse segundo ponto até a passagem do último corredor. Quando os ônibus que recolhem os desistentes apontaram na saída do túnel, notamos que à frente deles vinha um corredor caminhando. Na verdade se arrastando. Ele estava todo travado, mal conseguia andar. O nome dele é Antonio.

Quando ele se aproximou de nós, disse que estava abandonando a prova, pois, não conseguiria chegar ao Ibirapuera. Realmente ele tinha razão no que falava. Certamente não conseguiria.
Enquanto ele saia do percurso imaginei tê-lo ouvido perguntar a alguém que por lá estava, onde ficava a ponte nova.

Enquanto íamos embora, a Anna e eu conversávamos sobre o Antonio e a história de perguntar onde ficava a ponte nova. Pegamos nosso carro e entramos no congestionamento que estava na JK.

Algum tempo depois conseguimos sair da JK e entrar na Funchal. Nesse momento avistamos o Antonio que caminhava com muita dificuldade. Acho que nesse tempo (cerca de 20 minutos) ele havia conseguido andar uns 200 metros. Para piorar, fazia muito frio e garoava.
A Anna me falou para parar, pois, achava que não dava para deixá-lo por ali. Dito e feito, enquanto eu estacionava o carro ela perguntava para o Antonio se ele queria uma carona.

No caminho quando lhe perguntamos sobre seus treinos e corridas, soubemos que ele tinha participado de uma corrida no mês passado e que não treinava e que tinha acabado de concluir que daqui em diante precisaria começar a treinar.

Pois bem, levamos o Antonio até a ponte estaiada. Lá chegando, quando lhe perguntei onde ele queria descer, ele me disse que não sabia, pois, precisava achar o local onde havia acorrentado sua bicicleta.

Dá para imaginar o que se passou em minha cabeça.

Pois é, o Antonio havia saído de casa em Carapicuíba, pedalado até o local da largada, acorrentado a bicicleta, partido junto com os outros corredores e abandonado a prova no km 38.
Rodamos com o carro por todos os lados da ponte. Por sorte, depois de algum tempo, conseguimos achar a bike do Antonio.

Ela estava lá acorrentada. Sua roupa estava presa junto da bicicleta, toda molhada, afinal choveu durante boa parte do dia.

Até agora não consegui e acho que levará um bom tempo para esquecer esse acontecimento. Gostaria de saber a que horas o Antonio chegou em casa.

Ficamos com uma sensação de termos feito uma boa ação, porém, francamente, isso não poderia e não precisava ter acontecido.

A falta de informação e de preparo de muitas pessoas que, como o Antonio, se aventuram em uma prova dura como essa, ao invés de trazer qualquer tipo de benefício, acaba colocando em risco sua própria saúde e segurança.

Por isso lembre-se sempre que se quiser correr, treine, porém treine de forma sistemática e séria, acompanhado de pessoas competentes que saberão preservá-lo de riscos desnecessários.

Antonio Carlos Fiore, administrador de empresas e corredor
Foto: Revista O2

4 comentários:

Anônimo disse...

FIORE e ANNINHA,

É triste saber que existem muitos "Antonios" e "Antonias" nessa situação.
Parabéns a você e a Anninha em se disponibilizar em ajudar depois de mais 10 horas na montagem e distribuição gratuita de frutas e GRITOS DE INCENTIVO à todos os corredores na Maratona de São Paulo.
O posto do KM 36 é um local que tem a cara de vocês: - respeito, carinho, apoio e um sorriso amigo.
Só quem já correu uma maratona sabe o valor do esforço de vocês.

Wanderlei de Oliveira

Anônimo disse...

Muito Obrigado. Quando passei pelo Km 36 estava com dores e fome e foi de grande contribuição tanto as frutas e as bolachas. Parabéns e mais uma vez obrigado.

Anônimo disse...

Olás,

Realmente a "barraca da mexerica" já esta incorporada a historia da MSP.

Fico pensando como foi a volta do Antonio de bike para sua casa e sem a desejada medalha.

Ano que vem Antonio sabendo o que é uma maratona, possa voltar e conquistar seu troféu.

Harry

Anônimo disse...

paraben´s pelo seu gesto,

e tambem não esquecendo da equipe cranio´s (as meninas )que estão com voçês todos os anos.

antes mesmo de começar a prova 4 da manhã.