terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Song Bits: no ritmo da música


por Fernanda Paradizo

Atletas que ouvem música quando se exercitam conhecem muito bem os efeitos motivacionais que uma boa seleção pode produzir no seu treinamento, ajudando inclusive a melhorar a performance. Existem hoje estudos que comprovam os benefícios da música no esporte, além de exemplos de atletas de alto nível que fazem uso disso em competições importantes, como o nadador norte-americano Michael Phelps, que faturou oito medalhas de ouro nos Jogos de Pequim e em todas as provas que disputou estava lá sempre com seu iPod. No caso de Phelps, a música é um estímulo para aumentar a adrenalina à beira da piscina, antes da competição. “Quebrei meu primeiro recorde mundial ouvindo música antes. Naquele dia, percebi que estava diferente na piscina. A música me deixou agitado. Não pensei em mais nada a não sei em nadar”, disse o campeão em entrevista concedida ao especial para a TV norte-americana. A trilha sonora que o campeão usa para isso, segundo publicado na revista People, uma seqüencia do rapper Lil ‘Wayne, sobretudo a faixa I’m Me, do disco “The Carter III”. Outro exemplo famoso é o do etíope Haile Gebrselassie, que estava em busca do recorde dos 2000 metros indoor e descobriu que, se corresse no ritmo da música Scatman, de John Scatman, poderia ajudá-lo de alguma forma a atingir seu objetivo. E isso há dez anos, quando pouco ou nada se falava a respeito dos benefícios da música para a performance. Dito e feito. Em fevereiro de 1988, o atual recordista do mundo de maratona bateu a marca mundial dos 2000 metros em pista coberta ao som de Scatman. Quando perguntando sobre o porquê da escolha da música, o etíope disse que o ritmo é um pouco mais rápido do que o de suas pernas. “A música me motiva e me faz correr mais rápido”, disse o etíope. Um estudo elaborado pelo dr. Costas Karageorghis, professor de psicologia da Universidade de Brunel, em Londres, mostra que o impacto da música associado ao exercício pode aumentar em até 20% a performance do atleta se a seleção for bem escolhida. Segundo o pesquisador, “pode ser essa a diferença entre chegar em 1º lugar ou na 4ª ou 5ª posições”. A também recordista mundial de maratona, a inglesa Paula Radcliffe, também é adepta da música no treinamento. Segundo ela, seu uso é muito útil para quebrar a monotonia, principalmente quando faz exercícios de fortalecimento em academia ou mesmo em atividades indoor de cross-training, como bike, elliptical ou ski machine.

Não faltam na verdade exemplos de pessoas que usam a música como um estímulo nos treinos, principalmente nas atividades indoor. Acostumado com longos treinos realizados dentro de academia, já que a atividade profissional acaba dificultando a prática ao ar livre, o engenheiro e vice-presidente do Grupo Pão de Açúcar Caio Mattar, de 51 anos, sabe muito bem como escolher uma playlist perfeita para seus dias de treino em esteira. Com cinco maratonas no currículo, todas em Nova York, o melhor tempo conseguido na distância, de 3h03min, foi alcançado depois de uma temporada toda treinando em esteira, incluindo os longos e também os tiros. Segundo Mattar, a música ajuda na percepção do treino e levanta o astral. “O importante é ter uma seleção de músicas programadas com as quais você consegue acompanhar o ritmo com as passadas. Com uma boa seleção, corro em ritmos diferentes, o que torna a corrida mais divertida e menos monótona”, lembra ele, que faz 90% do seu treino em esteira e já fez inclusive treinos de 30 km.

O triatleta Sérgio Lobo Pinto, que é médico anestesiologista, de 52 anos, é outro que não abre mão da música nos treinos. “Para mim, é motivacional e antiestresse”, diz o triatleta, que gosta de correr com música principalmente quando está sozinho. Lobo costuma fazer uma seleção especial para os treinos, levando em conta o início, o meio e o fim. “No aquecimento, gosto de reggae ou músicas os Beatles, Stones, Elvis, Tom Jones, country, rock pop. Depois, os vou crescendo para metal, como Iron Maiden Black Sabbah, Deep Purple, Van Halen, Ao final, volto à calma com músicas do Yes, Pink Floyd, new age. As clássicas utilizo para alongamento e relax”, diz Lobo, que, por questão de segurança, nunca pedala ao ar livre ouvindo música. “No pedal, uso só nos treinos de spinning e no rolo.”

O engenheiro e triatleta José Maria Graner, o Xexéu, de 38 anos, não desgruda do seu iPod sequer um momento. “A música é um fator motivacional muito importante também no meu dia-a-dia. Ela fornece calma nos momentos de reflexão e ativa todo o corpo quando necessário”, diz ele, que utiliza a música em todos os tipos de treino. “O ritmo do som não conduz o ritmo do treino, mas influencia e muito. Mas nem todo mundo reage da mesma maneira. Temos que ficar atentos para que um treino forte não caia de rendimento por causa de algum fator externo como a música”, alerta o triatleta, que também usa uma seleção especial para cada tipo de treinamento. “Quando chega minha planilha, já procuro fazer as playlist´s com o número de músicas próximo ao tempo do treino. Como na minha adolescência tive contato com o rock, para mim esse tipo de som é o ideal para manter o espírito elevado. Mas nem sempre as bandas que mais curte são os ideais para se ouvir treinando. Bandas que eu não gostava acabaram entrando para minhas prediletas por causa do resultado que davam nos treinos.” Para isso, Xexéu tem uma tática para não errar na escolha que parece infalível. “Treino forte normalmente vai bem com batidas rápidas de bumbo ou algum techno bem marcado, como Ministry, algumas músicas do Metallica e definitivamente Slayer. Se o treino está no final e você precisa de um gás adicional, Offspring na veia. Para treino mais rodado, prefiro bandas como Rush ou Iron Maiden.”


Embora seja certo e haja exemplos de sobra que a música bem escolhida interfere de forma positiva na performance do atleta, na hora de optar por colocar um fone no ouvido e ligar o som no último volume para correr ou mesmo pedalar, há de se considerar os prós e os contras. Veja a seguir.

Os prós
- A música tem um poder estimulante e motivacional. Ela ajuda você ir mais adiante num treino quando poderia desistir. Exercícios que poderiam ser monótonos tornam-se mais estimulantes com o uso de música, já que desvia a atenção da mente para o som.
- Além de ter um poder motivacional antes e durante o exercício, a música serve também para relaxar a mente. Isso pode acontecer durante exercícios mais leves, de apenas rodagem, ou mesmo no aquecimento e no desaquecimento.
- A música coloca diversão na sua rotina de treino, principalmente quando as playlist's são bem selecionadas e “casam” direitinho com seu treino do dia.

Os contras
- Apesar de ser estimulante e motivacional, é preciso ter cuidado para desviar a atenção em relação ao movimento e sua técnica do exercício. Você pode ficar muito empolgado e sair completamente do ritmo, correndo o risco de se machucar e treinar completamente fora daquilo que é sua capacidade.
- Quando você está com fones de ouvido, é preciso ter atenção redobrada com o que acontece no ambiente à sua volta, principalmente para quem corre na rua, que deve ter muito cuidado com os carros. Corra sempre na direção contrária dos carros para poder visualizar o movimento. No pedal ao ar livre, é completamente desaconselhável o uso de fones de ouvido.
- Uma pessoa que treina muito com música pode achar monótono fazer o mesmo treino sem música. Lembre-se que em situações de prova hoje em dia em muitos casos não é permitido o uso de fones de ouvido. Por isso, tenha a certeza de que você saberá lidar com isso numa competição.

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